A adoção de cachorros da enchente é a única solução?

A adoção de cachorros da enchente é a única solução Uma reflexão sobre o impacto das cheias para os animais vulneráveis no Sul. Verdade necessária e urgente.
jul 17, 2024

Olá! Sou a Suzana e cá estou desbravando, junto da Matilha Brasil, o desenvolvimento da escrita sobre a maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul. Afinal, a adoção de cachorros resgatados durante a enchente no sul é a única saída diante da quantidade enorme de animais abandonados?

Gaúcha, educadora física com 20 anos de atuação, me descobri designer, virei empresária, sou mãe da Isabela e apaixonada por cães desde pequenina. Fui handler mirim aos três anos de idade numa exposição do KCRGS com um airedale da criação do meu avô.

Tutora da Mel e da Misty (agora duas estrelinhas), atualmente tenho a Cacau da Boa Barba, uma schnauzerenta ligada no 220v e, o Toddy Macega, um SRD que me ensinou o verdadeiro sentido da palavra GRATIDÃO. 

Durante a pandemia, em 2020, fui “picada pelo mosquito” da causa animal através da ONG Bendito Bicho, criada com o objetivo de fotografar e contar histórias de cachorros e gatos disponíveis para adoção responsável. Dali em diante, nunca mais abandonei o voluntariado.

Mas o que tudo isto tem a ver com os cachorros e as cheias no Rio Grande do Sul? Vem comigo que te explico.

O abandono de cães: verdade ou consequência 

Muitos de nós já brincou de VERDADE OU CONSEQUÊNCIA na adolescência: jogo que precisava de, no mínimo, 2 pessoas, mas quase sempre é jogado em grupo. Se você não conhece, funciona assim: senta-se em círculo e uma pessoa gira uma garrafa. Quando ela para, a pessoa para quem o fundo está apontando faz uma pergunta e quem está na direção do bico escolhe se quer responder com verdade ou consequência (pagando uma prenda escolhida por quem perguntou). Diversão garantida e com muitas revelações, óbvio… rsrs

Contudo, olhando de forma mais profunda para a regra básica deste jogo, conclui-se que nem sempre a verdade escancarada pode ou deve ser validada como a escolha. Por isso, a consequência é a saída. 

E assim, muitas vezes é o que fazemos na vida diária. Escolhemos a consequência, mascarando a verdade. Por medo, por ser mais fácil ou, pela incapacidade de compreender, aceitar e lutar por esta verdade.

Sobretudo, para o momento trágico que se vive, este jogo ilustra exatamente o que acontece com os cães que emergiram de uma camada invisível para a sociedade da “prateleira de cima” da nossa sociedade individualista.

Antes de mais nada, é importante salientar que a tragédia de maio emergiu uma quantidade absurda de animais trazendo uma VERDADE que, por muito tempo, foi percebida como CONSEQUÊNCIA. Finalmente, muitos animais receberam vacinas, cuidados veterinários, vermífugos e/ou antiparasitários pela primeira vez. E assim, com uma quantidade enorme de cães e gatos resgatados, muitos tiveram a chance de uma vida mais confortável e digna, saindo do abandono para o sofá de uma casa de família. 

MAIO DE 2024: a maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul

O mês de maio chegou deixando marcas profundas em todo o Rio Grande do Sul. Posso afirmar que a enchente de maio foi a maior tragédia ambiental por aqui, superando a tão falada histórica cheia de 1941.

Muitas pessoas e animais ficaram desabrigados, desalojados. Ao todo, 478 municípios gaúchos foram atingidos por inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra. No total, 173 mortes e algumas comunidades inteiras necessitando de tudo. E quando escrevo tudo, é tudo mesmo, desde água potável, roupas, utensílios domésticos e toda estrutura necessária de uma casa. Sem contar, o trauma físico e emocional que este evento deixou na região. 

Foram semanas resgatando famílias e seus animais. Entre eles:

  • Cachorro e gatos;
  • Galinhas e porcos;
  • Gado e cavalos.

Todos foram acolhidos em diversos abrigos improvisados criados às pressas. Quem não lembra do Caramelo? Cavalo resgatado do telhado de uma casa em Canoas – cidade da região metropolitana de Porto Alegre – que ganhou o coração dos brasileiros que acompanhavam tudo pela mídia. Com toda repercussão, Caramelo tornou-se um símbolo de superação durante a enchente no Rio Grande do Sul.

Uma força tarefa de civis, pessoas comuns e profissionais de diversas áreas, abriram mão do privilégio de não ser atingido “botando a mão na massa” para salvar, no sentido mais amplo da palavra, o povo gaúcho. Cada um fez o seu possível: resgatou com barcos ou jet sky, doou, voluntariou nos abrigos humanos e animais ou ofereceu gratuitamente sua especialidade. Uma mobilização solidária que refletiu pelo Brasil afora reverberando em diversas ações institucionais e de organizações não governamentais de todo país, dos quais eu não conseguiria citar sem esquecer algum.

Cachorros resgatados durante a enchente no sul

Cachorros resgatados durante a enchente no sul

Desde o ocorrido, boa parte deles, resgatamos e encaminhamos para abrigos. Abrigos novos, pois os existentes antes das cheias já estavam lotados de cães à espera de adoção. 

E aqui está a grande verdade que por anos foi vista apenas como consequência. 

Desde sempre, quem trabalha, conhece uma ONG ou protetor animal independente, sabe que a causa animal “enxuga gelo”. Ou seja, resgata, acolhe, trata, castra, doa e o ciclo se repete… Não termina nunca! E não termina porque sempre tem mais e mais cães e gatos reproduzindo e seguindo abandonados. A adoção de cachorros, principalmente, é uma trajetória longa e infinita.

Aliás, é importante lembrar que as pessoas envolvidas na causa, lutam diariamente para acolher, alimentar, cuidar, castrar e buscar uma família para doar sem nenhuma ajuda oficial. Buscam recursos com o apoio das pessoas que os acompanham e validam a atividade. É uma atividade de saúde pública, inclusive! Afinal, as zoonoses estão aí… Imagina se não existissem os protetores buscando adoção de cachorros e gatos.

Alguma política pública efetiva voltada para o tema? NÃO! Todas as iniciativas são voltadas para consequência, nunca para a verdade.

Você deve estar se perguntando: como assim, afinal qual é a verdade? A verdade é a falta do efetivo olhar do governo para esta população de animais de rua, comunitários ou de maus tratos, com um programa efetivo de castração, conscientização da população e busca por adoções. Havendo responsabilidade sobre os bichinhos, diminuiremos os problemas ao longo dos anos. Só que este olhar e planejamento não acontece da noite para o dia e, óbvio, não traz voto.

O aumento da adoção de cachorros.

Sim! Com a divulgação significativa pela mídia tradicional e redes sociais implorando por estes animais, a comunidade abriu seus lares como lar temporário ou na adoção de cães resgatados. 

Tudo isto depois de um esforço gigante de veterinários e voluntários na recuperação desta população acolhida. Durante semanas e, ainda acontecendo, há muitos veterinários (alguns contratados pelo governo e vários voluntários) dedicados aos cuidados intensivos com aqueles que chegaram doentes ou debilitados pelos dias sem comer e imersos na água suja. Também segue acontecendo os mutirões de castração. 

Além disso, de maio para cá, houveram reencontros e feiras de adoção de cachorros em busca de lares para todos. Alguns foram adotados por aqui, outros levados para os quatro cantos deste Brasil, minimizando a espera por dias melhores e, vários, seguem em abrigos à espera de uma chance. Infelizmente o abandono daqueles que um dia já tiveram uma família foi grande. Difícil aceitar, mas compreensível. Para algumas pessoas desalojadas, traumatizadas e em processo de total recomeço, trazer um pet de volta parece inviável, pelo menos a curto prazo. Só quem vive a situação pode saber e sentir. Impossível julgar.

Em contrapartida, mais de 60 dias passaram e os números são assustadores: atualmente temos em torno de 18 mil animais em abrigos no estado, sendo:

  • Em torno de 6 mil estão em Porto Alegre, 
  • 7 mil em Canoas e os demais em outros municípios. 

Gráfico dos abrigos de animais no Rio Grande do Sul

É importante dizer, que as cheias de 2024 chegaram chegando e trouxeram uma verdade para ficar e mexer com todo o sistema da consequência:

  • Governantes de cabelo em pé;
  • Abrigos com a diminuição de voluntários;
  • Animais tristes presos em baias frias;
  • E protetores ainda mais sobrecarregados e sem perspectivas de dias melhores.

E agora, qual o futuro?

Agora, temos uma crise humanitária que desta vez taí, escancarada! A adoção de cachorros não é a única solução.

No entanto, quem sabe também agora, a causa animal tenha mais visibilidade, conscientização e ações efetivas acreditando num futuro melhor com castrações em massa, refletindo na diminuição de animais de rua. 

Aliás, parece contraditório, mas tem um ponto positivo nisso tudo!! A emersão desta camada animal velada e ignorada pela nossa vida corriqueira, sacudiu o sistema. É preciso acreditar que sairemos mais fortes, com menos animais na rua, com mais consciência sobre a adoção responsável e menos abandono. Cachorros são seres sencientes e indefesos. Respeito é o mínimo que merecem! 

Por fim, para ti que talvez nunca viveu uma tragédia climática desta dimensão, qual seria a atitude diante disto tudo?  Talvez a adoção de um vira-lata seja uma grata surpresa. Saiba mais sobre estes seres gratos aqui.

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Sou a Bruna Mamãe do Chop (@chop_chow) e estudante de Medicina! Estou a 3 anos no Mundo do Instagram Pet e gosto muito de todo esse universo de influenciador, onde compartilho minhas experiências e dicas da vida com um Chow Chow!

Carolina Falaschi

Relações Públicas apaixonada por animais. Desde o meu primeiro emprego, eles sempre estiveram presentes. Estou focada no mercado pet desde 2016, quando fui fazer curso de Auxiliar Veterinário e depois fiz apenas um ano de Medicina Veterinária. Aqui na Matilha Brasil, estou unindo a paixão por comunicação e animais, em publicações mensais que unem conhecimento técnico e minha experiência como tutora do @arthur.pastoralemao.

Fernanda Franco

Bióloga doutora em Genética e Biologia Molecular e apaixonada por cães. Desde a faculdade sempre tive interesse muito grande nas relações evolutivas e nos padrões comportamentais dos animais. E mesmo não sendo esse o caminho trilhado profissionalmente, sempre foi um hobbie estudar um pouco mais sobre isso.
Com a chegada da Lelé e da Poppys (@leleepoppys) esse interesse aumentou buscando sempre o bem-estar das duas.

Fê Rabaglio

Designer gráfico especialista em Comunicação em Redes Sociais, atuo na área de produção de conteúdo e gestão estratégica de redes sociais desde 2011.
Já passei pelos mercados de Turismo e Intercâmbio, mas o mercado pet foi uma grata surpresa que os meus cães, os Ursinhos Chow Chow, me trouxeram, cheio de peculiaridades que amo conhecer e contribuir para o crescimento de marcas e pet criadores de conteúdo.!

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