Calming signals e a comunicação canina

Calming signals e a comunicação canina
fev 25, 2021

Olá, pessoal! Sou Fernanda, humana da Lelé e da Poppys do instagram @leleepoppys, aluna da Academia da Matilha, bióloga muito curiosa a respeito da influência do processo evolutivo no comportamento e cognição canina. E hoje gostaria de contar um pouquinho para vocês sobre os famosos “calming signals”.

Comunicação animal

Comunicação animal

@leleepoppys

Muitas vezes definimos a comunicação como o processo de transferência de informação de um indivíduo a outro. No entanto, quando avaliamos sob o olhar do comportamento animal, devemos inserir mais um item nessa equação, o custo desse processo. Sei que está pensando: mas como assim? Sob o ponto de vista humano pensamos só na troca de informação, já na etologia o emissor envia sinais comunicativos com o objetivo de alterar o comportamento do receptor. E essa alteração gera uma vantagem pelo menos ao emissor, então o custo da emissão vale a pena. No post Linguagem canina falamos um pouquinho mais detalhado sobre as diversas formas de comunicação dos cães, que apesar de não falarem são extremamente hábeis no processo de se comunicação entre eles e conosco. 

Comunicação visual e Conflitos

Comunicação visual e Conflitos

@leleepoppys

Cães são animais sociais e por isso várias formas de comunicação são essenciais para manutenção do grupo, sociedade. O estudo sobre comunicação visual em cães domésticos iniciou-se por observação dos lobos, animal de maior parentesco. Mas devido às diferenças entre as espécies, considerou-se errôneas as conclusões desses estudos. Essa forma de se comunicar, que inclui posturas corporais e expressões faciais são extremamente importantes para coesão e união do grupo, um exemplo seria a resolução de conflitos e reconciliação entre os membros.

Sei que quando falamos em conflito, a mente humana já nos leva direto a pensar em brigas. Mas na verdade a melhor definição nesse caso seria: uma situação em que dois ou mais indivíduos possuem objetivos, atitudes ou interesses distintos. E a consequência disso é que o comportamento muda em relação a uma situação pacífica e isso poderia escalar para uma situação de agressão. No entanto, o conflito tem um custo para os indivíduos envolvidos, pois geram gasto energético e de tempo, aumenta o risco de lesão e injúria e pode afetar de forma permanente a relação entre os envolvidos, o que torna a vida dos animais sociais bastante complexa. Dessa forma, um dos maiores desafios desses animais é evitar o conflito ou pelo menos reduzir os efeitos negativos caso não seja possível evitar.

Definição dos comportamentos de apaziguamento (“Appeasing behavior”) 

Definição dos comportamentos de apaziguamento (“Appeasing behavior”) 

@leleepoppys

Antes de falar sobre os sinais, vamos falar um pouco sobre os significados de “to appease”, que deu origem ao termo:

  1. Tornar alguém satisfeito ou menos nervoso oferecendo ou dizendo algo desejado;
  2. Tornar uma dor ou problema menos doloroso ou problemático, a fim de trazer um estado de paz e quietude, acalmar;
  3. Provocar redução ou acalmar;
  4. Pacificar ou conciliar através de uma concessão de algo de valor, normalmente sacrificando algum princípio.

Quando falamos em comportamento de apaziguamento podemos aplicar dois desses significados. Pela definição dada por Turid Rugaas, que descreve como posturas e atitudes que os cães tomam para acalmar o emissor e os demais envolvidos em uma situação conflituosa, encaixando-se bem o significado 3. Já pela definição mais recente de Camila Pastore, que descreve como comportamentos emitidos em situação de encontros agonísticos que visam reduzir a probabilidade de uma escalada no comportamento agonístico (relacionado a luta, embate), nesse caso o significado 4 se enquadra melhor.

 Sinais de apaziguamento e Calming Signals

Sei que está ai já ansioso pra saber dos tais “calming signals”. Eles foram descritos por Turid Rugaas em 2006. Ela hipotetizou que esses comportamentos em cães domésticos seriam mais eficientes na prevenção de eventos agressivos do que os comportamentos em estudo em lobos. E os denominou como “Calming signals”, nomenclatura que ainda causa polêmica entre etologistas, mas que também descreve um grupo de comportamentos que visam reduzir o nível de estresse e evitar uma escalada no comportamento agressivo, e se enquadram dentro dos comportamentos de apaziguamento. 

É muito importante entender como funciona o comportamento agressivo para compreender a importância do apaziguamento. Kendal Shepperd descreveu, no manual “Behavioural medicine as an integral part of veterinary practice”, a chamada de escada de Shepperd, que mostra essa escalada no comportamento. Então, sob uma situação conflituosa ou de estresse os cães começam a emitir sinalização de estresse e ameaça, que seriam os sinais de neutralização de conflito, nesse grupo estão os sinais de apaziguamento e “calming signals”.

Na ausência de compreensão, outro estágio de comportamento seriam os sinais para evitar o conflito. E por fim, se a situação não for dissolvida então ocorrem os sinais de escada de conflito, e aqui podemos chegar a um nível de agressão. Essa escada é uma simulação, no entanto nem sempre esses comportamentos são sequenciais. Quando falamos sobre o custo do conflito, é nesse momento que o cão avalia se o nível de estresse e o risco da situação é alto o suficiente para escalar para agressão sem tentar evitar. Por isso, entender e conhecer bem seu cão é de extrema importância. Afinal, a previsibilidade é a melhor ferramenta para o tutor auxiliar a evitar essa escalada.

Exemplos dos sinais de apaziguamento e calming signals

Eu sei que já estão ansiosos para alguns exemplos de comportamentos apaziguadores. Mas falar somente em posturas e sinais sem contexto é muito complicado. Antes de buscar os sinais é preciso entender o contexto. Por exemplo, um sinal bastante falado é lamber os lábios (ou focinho), de fato sob uma situação de estresse esse é um comportamento emitido buscando apaziguamento e neutralização do conflito. Mas pode ser um comportamento emitido quando o cão está com fome, ou passando mal. Então, sempre busque um contexto, entenda e então identifique o comportamento. Ahh mas como vou fazer isso? Somente com experiência, quanto mais relação houver com o cão mais fácil fica de ler a situação e o cão.

Dito isso, alguns dos sinais descritos como apaziguadores de acordo com Mariti em seu artigo publicado em 2016 são:

  • Lamber lábios/focinho
  • Virar a cabeça
  • Mudar de direção
  • Congelar
  • Movimentar-se lentamente
  • Curvar-se
  • Sentar
  • Deitar
  • Bocejar
  • Farejar o chão
  • Levantar a pata
  • Piscar

Quanto vocês já sabiam sobre esses comportamentos apaziguadores? Já haviam pensado na importância deles para vida de um animal social, como os cães? Aproveito para convidá-los para conhecer nosso Instagram @leleepoppys, lá sempre trazemos curiosidades sobre o comportamento e cognição canina.

Fernanda Franco

Fernanda Franco

Autor

Humana de estimação da Lelé e da Poppys do @leleepoppys. Bióloga doutora em genética e biologia molecular, apaixonada por processos evolutivos e padrões comportamentais caninos. Aqui “traduzo” a literatura científica em linguagem acessível e conto a minha experiência como mãe de pet.

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Bruna Flores Vaz

Sou a Bruna Mamãe do Chop (@chop_chow) e estudante de Medicina! Estou a 3 anos no Mundo do Instagram Pet e gosto muito de todo esse universo de influenciador, onde compartilho minhas experiências e dicas da vida com um Chow Chow!

Carolina Falaschi

Relações Públicas apaixonada por animais. Desde o meu primeiro emprego, eles sempre estiveram presentes. Estou focada no mercado pet desde 2016, quando fui fazer curso de Auxiliar Veterinário e depois fiz apenas um ano de Medicina Veterinária. Aqui na Matilha Brasil, estou unindo a paixão por comunicação e animais, em publicações mensais que unem conhecimento técnico e minha experiência como tutora do @arthur.pastoralemao.

Fernanda Franco

Bióloga doutora em Genética e Biologia Molecular e apaixonada por cães. Desde a faculdade sempre tive interesse muito grande nas relações evolutivas e nos padrões comportamentais dos animais. E mesmo não sendo esse o caminho trilhado profissionalmente, sempre foi um hobbie estudar um pouco mais sobre isso.
Com a chegada da Lelé e da Poppys (@leleepoppys) esse interesse aumentou buscando sempre o bem-estar das duas.

Fê Rabaglio

Designer gráfico especialista em Comunicação em Redes Sociais, atuo na área de produção de conteúdo e gestão estratégica de redes sociais desde 2011.
Já passei pelos mercados de Turismo e Intercâmbio, mas o mercado pet foi uma grata surpresa que os meus cães, os Ursinhos Chow Chow, me trouxeram, cheio de peculiaridades que amo conhecer e contribuir para o crescimento de marcas e pet criadores de conteúdo.!

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