Hipotireoidismo em cães: sintomas e causas

Hipotireoidismo em cães
abr 14, 2021

Olá, pessoal! Sou Fernanda, humana da Lelé e da Poppys do Instagram @leleepoppys, aluna da Academia da Matilha, bióloga doutora em Genética e Biologia Molecular, e aficionada pelo processo evolutivo e comportamento dos cães. Hoje, mudei um pouquinho o foco dos meus textos, apesar de que não deixa de ser sobre bem-estar. Mas mais focado para uma doencinha em especial que mudou toda nossa rotina depois que descobrimos, o hipotireoidismo em cães.

Importância da tireoide 

Importância da tireoide 

@leleepoppys

Antes de falar da doença em si, gostaria de contar para vocês um pouquinho sobre a tireoide e os hormônios tireoidianos. Já sei que está aí pensando “socorro, eu nem gostava de biologia!” Mas calma, o objetivo aqui não é ser expert em endocrinologia e sim entender o básico para que os sinais da doença façam sentido. 

A tireoide é uma glândula localizada no pescoço, na traqueia. Ela é considerada com uma das glândulas mais importantes para o pleno funcionamento metabólico dos cães (e para nós humanos). Isso porque essa glândula é responsável pela produção dos famosos hormônios tireoidianos, tetraiodotirosina (T4) e tri-iodotirosina (T3). Esses hormônios são compostos basicamente por duas substâncias: tirosina e iodo. O organismo é capaz de produzir a tirosina, mas também pode ser ingerido na alimentação (por exemplo, no peixe). Enquanto o iodo é absorvido por ingestão através dos alimentos, assim como no caso dos humanos. Aposto que agora entendeu a função do sal iodado (ou sal de cozinha)!

E aí você já deve estar se perguntando, mas qual a razão desses hormônios serem assim TÃO importantes. Pois bem, esses hormônios estão envolvidos em grande parte dos processos metabólicos do organismo como:

  • Aumento da taxa metabólica e consumo de oxigênio (produção de energia para o corpo)
  • Efeitos no sistema cardiorrespiratório, muscular e adiposo
  • Essenciais para desenvolvimento do sistema neurológico e esquelético
  • Afetam metabolismo de carboidratos
  • Por fim, afeta características de pele, pelos e cabelos, entre outros…

Poderia ficar aqui citando várias funções, mas o objetivo é só mostrar como essa pequena glândula afeta todo o funcionamento normal do organismo. Então, tanto o excesso quanto a falta dos hormônios tireoidianos são problemáticos.

 Hipotireoidismo em cães

@leleepoppys

O hipotireoidismo em cães é a doença endócrina mais frequente nos cachorros , com uma prevalência entre 0,2 e 0,8%. No entanto, essa taxa não é muito acurada devido ao baixo índice de diagnóstico correto. Essa doença tem como característica a redução ou ausência dos hormônios tireoidianos – como o próprio nome já indica hipo (baixo/pouco) tireoidismo (função da tireoide). Existem quatro formas de hipotireoidismo: Congênito, Primário, Secundário e Terciário.

Em cães, hipotireoidismo primário e secundário são mais prevalentes. Sendo o primário responsável por aproximadamente 95% dos diagnósticos. As outras formas são bastante raras. E aí você pergunta: qual a diferença entre esses o primário e o secundário Pois basicamente a diferença está no causador da falta dos hormônios T3 e T4. 

Vou explicar de forma até infantil como a tireoide trabalha: o hormônio estimulante da tireoide (TSH) produzido pela hipófise (glândula da caixa craniana), vai lá na tireoide e “fala” produz T3 e T4. Então a tireoide coloca todo seu maquinário e produz. E aí, com hormônios circulando na taxa adequada, a hipófise reduz a produção do TSH. E esse processo ocorre de forma cíclica, chamada de retroalimentação negativa.

Voltando aos tipos de hipotireoidismo, o primário é quando por algum motivo a tireoide é destruída, em cães o mais comum é uma reação autoimune (o sistema imune do indivíduo destrói a glândula, similar a doença de Hashimoto em humanos). Então o TSH fica sempre com taxas altas, pois a tireoide não é capaz de produzir T3 e T4 nas taxas ideias.

Já no secundário, o problema é a falta de TSH, na ausência dele a tireoide acha que não precisa produzir, baixando os níveis dos hormônios. Então, na suspeita de disfunção da tireoide os veterinários costumam pedir exame de dosagem de T3, T4 e TSH.

Sinais clínicos do hipotireoidismo em cães

@leleepoppys

O hipotireoidismo canino pode acontecer em qualquer raça e idade, sendo mais comum em cães de meia-idade, aproximadamente 7 anos. Cães senis normalmente têm uma redução nos níveis de hormônios tireoidianos que podem acontecer por outros fatores. Além disso, um fator que tem sido fruto de investigação é o efeito hereditário e genético desta doença.

Infelizmente, por ser um hormônio que afeta o metabolismo do corpo como um todo, os sinais não são específicos, podendo nos confundir sobre outras doenças que possuem sintomas similares ou até mesmo não notarmos. Uma vez que afeta o metabolismo e gasto energético, existe uma grande tendência à letargia, fraqueza e ganho de peso. Além disso, outro sinal mais claro para o tutor está relacionado às alterações na pelagem que podem chegar a causar até alopecia. Por afetar o sistema cardiorrespiratório o cão com hipotireoidismo normalmente tem bradicardia, ou seja, a frequência cardíaca é sempre baixa. Esses são alguns dos sinais mais comuns dessa endocrinopatia. E claro, a avaliação de um veterinário é imprescindível para um diagnóstico e tratamento preciso da doença.

A vida de um cão portador de hipotireoidismo

 

A vida de um cão portador de hipotireoidismo

@leleepoppys

Bom, sei que talvez esse seja o ponto do texto em que exista maior curiosidade.  E aqui posso usar um pouco da nossa experiência. Isso porque a Lelé (saiba mais sobre a raça maltes aqui) teve o diagnóstico há aproximadamente três anos, e ela tem uma vida praticamente normal. Para nós a coexistência de uma outra doença (doença inflamatória intestinal) dificultou muito o processo de ajuste do hormônio, tornando os efeitos do tratamento tardios. Além da medicação inserida na rotina diária para a Lelé, a maior dificuldade está na perda de peso. Então foi necessário adaptar a alimentação para que houvesse uma redução no peso. Ela faz o acompanhamento com uma veterinária especialista em endocrinologia e frequentemente faz exames para acompanhar os níveis dos hormônios tireoidianos. O mais importante é ter um diagnóstico preciso e um tratamento adequado.

Sempre que falamos sobre o caso da Lelé com hipotireoidismoem cães, ouvimos “nossa nem sabia que cachorro tinha isso…”. E você sabia que cães podem ter endocrinopatias como os humanos? Aproveito para convidá-los a acompanhar a rotina minhas doguinhas lá no @leleepoppys.

Fernanda Franco

Fernanda Franco

Autor

Humana de estimação da Lelé e da Poppys do @leleepoppys. Bióloga doutora em genética e biologia molecular, apaixonada por processos evolutivos e padrões comportamentais caninos. Aqui “traduzo” a literatura científica em linguagem acessível e conto a minha experiência como mãe de pet.

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Bruna Flores Vaz

Sou a Bruna Mamãe do Chop (@chop_chow) e estudante de Medicina! Estou a 3 anos no Mundo do Instagram Pet e gosto muito de todo esse universo de influenciador, onde compartilho minhas experiências e dicas da vida com um Chow Chow!

Carolina Falaschi

Relações Públicas apaixonada por animais. Desde o meu primeiro emprego, eles sempre estiveram presentes. Estou focada no mercado pet desde 2016, quando fui fazer curso de Auxiliar Veterinário e depois fiz apenas um ano de Medicina Veterinária. Aqui na Matilha Brasil, estou unindo a paixão por comunicação e animais, em publicações mensais que unem conhecimento técnico e minha experiência como tutora do @arthur.pastoralemao.

Fernanda Franco

Bióloga doutora em Genética e Biologia Molecular e apaixonada por cães. Desde a faculdade sempre tive interesse muito grande nas relações evolutivas e nos padrões comportamentais dos animais. E mesmo não sendo esse o caminho trilhado profissionalmente, sempre foi um hobbie estudar um pouco mais sobre isso.
Com a chegada da Lelé e da Poppys (@leleepoppys) esse interesse aumentou buscando sempre o bem-estar das duas.

Fê Rabaglio

Designer gráfico especialista em Comunicação em Redes Sociais, atuo na área de produção de conteúdo e gestão estratégica de redes sociais desde 2011.
Já passei pelos mercados de Turismo e Intercâmbio, mas o mercado pet foi uma grata surpresa que os meus cães, os Ursinhos Chow Chow, me trouxeram, cheio de peculiaridades que amo conhecer e contribuir para o crescimento de marcas e pet criadores de conteúdo.!

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