Mãe de cachorro: uma explicação biológica para essa relação

Mãe de cachorro: uma explicação biológica para essa relação
maio 5, 2020

E em meio a essa grande pandemia, Maio chegou. Mês que celebramos o dia das mamães! Sou a Fernanda, humana de estimação da Lelé e da Poppys do @leleepoppys e bióloga muito curiosa pelo comportamento e evolução dos cães. Por isso, aproveitando a proximidade da data, gostaria de contar para vocês um pouco mais sobre as bases biológicas da ligação (parental) entre humanos e cães. Então já me conta nos comentários, você se considera mãe de cachorro?

Mãe de cachorro: Cuidado parental, aloparental e adoção

Mãe de cachorro: Cuidado parental, aloparental e adoção

@leleepoppys

Antes de falar sobre a relação (incrível!) entre nós e os cães, gostaria de apresentar alguns conceitos para facilitar a compreensão desse sentimento de mãe de cachorro. Lembrando que os termos e conceitos utilizados aqui são sob o ponto de vista biológico, em outras áreas podem ter outras conotações e significados.

  • Cuidado parental é definido como qualquer cuidado que aumente o fitness da descendência. Ou seja que aumente as chances de sobrevivência dos filhotes (sucesso reprodutivo). 
  • Cuidado aloparental é qualquer cuidado parental direcionado a um indivíduo jovem não descendente. Isso significa cuidar de filhotes de outros pais.
  • Adoção é um tipo especial de cuidado aloparental, em que os pais adotivos cuidam da prole até a morte ou até que ela desapareça.

Nem todas espécies têm comportamento de cuidado parental, por envolver gasto energético dos progenitores (montagem de ninhos, amamentação…), e quanto mais complexo o cuidado parental maior o custo associado. Então, o cuidado parental passa a ser benéfico para os progenitores quando atinge o sucesso reprodutivo (sobrevivência dos filhotes), dessa forma promovendo a transmissão dos genes parentais através dos descendentes. 

Diante desse alto custo, o cuidado aloparental e a adoção ocorrem com base em outros fundamentos comportamentais, que não sucesso reprodutivo, pois a prole não é um descendente direto. O comportamento parental desviado é uma das teorias utilizadas para explicar esse tipo de cuidado e ocorre, por exemplo, quando a fêmea perdeu um filhote ou acabou de ter (carga hormonal para cuidado parental).

Cuidado Aloparental na natureza

Mãe de cachorro: Cuidado parental, aloparental e adoção

@leleepoppys

Um mito famoso que relata um caso de cuidado aloparental, mais especificamente adoção, é o da fundação de Roma. Ele conta a história dos gêmeos Rômulo e Remo, que foram encontrados à beira do rio Tibre por uma loba que os amamentou e criou. E na vida adulta Rômulo fundou a cidade de Roma oito séculos antes de Cristo. 

Até onde sabemos, essa história é um mito. Mas o comportamento de cuidado aloparental é relativamente comum na natureza e bem documentado. Por ser um processo que envolve um custo energético, é mais frequente em animais sociais, como lobos. Nesses casos os filhotes podem ser criados por vários membros do grupo (irmãos, outras fêmeas e até machos) de acordo com a estrutura social. Entretanto, entre organismos de mesma espécie é um processo mais frequente do que entre espécies distintas.

O comportamento de adoção é pouco documentado em animais não humanos. Isso se deve ao fato de ser um comportamento mais frequente em animais que estão fora do seu ambiente natural, como centros de recuperação de animais silvestres e zoológicos.

Na literatura científica, tem sido descrito formas distintas de cuidado aloparental em várias espécies, como: 

  • Colobus de Angola –  Colobus angolensis palliatus (Primata)
  • Macaco prego amarelo – Sapajus libidinosus (Primata)
  • Lobos – Canis lúpus (Canídeo)
  • Rato do mato –  Acomys dimidiatus (Roedor)
  • Golfinho-roaz – Tursiops truncatus (Cetáceo)
  • Pica-pau-do-campo – Colaptes campestris campestres (Ave)
  • Peixe-palhaço –  Amphiprion ocellaris (Peixe)

Importância da domesticação na relação entre humanos e cães

Importância da domesticação na relação entre humanos e cães

@leleepoppys

Ao longo de milhares de anos compartilhando uma história evolutivas cães e homens construíram uma relação de apego iniciada com o processo de domesticação. E esse é um processo que envolveu adaptação de ambas as espécies, como contei aqui no post De caçador a pet: o comportamento de cães sob um ponto de vista evolutivo.

Atualmente, boa parte dos cães são considerados como membros da família pelos tutores. No entanto, precisamos lembrar que essa relação foi mudando bastante ao longo do tempo e também possui bastante variação entre as sociedades humanas. Os cães passaram por diversas adaptações do ponto de vista evolutivo para que essa interação com a nossa espécie se tornasse ainda mais próxima.

Contexto biológico da relação entre humanos e cães

Contexto biológico da relação entre humanos e cães

@leleepoppys

O relacionamento entre nós e os cães é promovido por um vínculo emocional muito similar ao existente na relação mãe-filho, sendo mais forte do que a ligação existente entre companheiros e amigos.  Por isso muitas de nós nos denominamos mãe de cachorro.

E aqui entram os conceitos biológicos de cuidado parental, na espécie humana esse é um comportamento bastante complexo e longo. Os progenitores alimentam, limpam, cuidam, protegem, brincam e educam a prole até que ela tenha idade suficiente para seguir independente (às vezes perdura mesmo após autonomia da prole). E todo esse cuidado é observado também na maioria dos tutores de cães (exceções existem), caracterizando nessa situação o cuidado aloparental e mais especificamente de adoção interespecífica (duas espécies distintas).

Muitos estudos buscam identificar similaridades entre a ligação tutor-cão e mãe-filho.  E alguns comportamentos semelhantes sustentam essa ideia, como o tipo de discurso – uso de frases simples em tom mais agudo repetidamente.

Como dito anteriormente, o cuidado seja parental ou aloparental, normalmente estão relacionado a mudanças hormonais. No caso da relação homem-cão, muitas pesquisas têm buscado compreender as mudanças fisiológicas ocorridas tanto no homem quanto no cão. A oxitocina é um hormônio conhecido por facilitar e mediar a ligação e o apego entre mães e filhos, ele é aumentado durante o parto e amamentação. O aumento desse hormônio também é observado quando há interação entre cães e humanos.

Mãe de cachorro sob ponto de vista comportamental

Comparar a relação mãe-filho com a relação tutores-cães ainda é muito questionada, principalmente por aqueles que não tem cães. Pensando no cuidado aloparental, nem sempre é simples compreender tanto gasto energético (e dinheiro!) em uma “prole” que não é descendente. No entanto, sob o ponto de vista comportamental e fisiológico existem grandes similaridades nessas relações. Mas lembrando que essa ligação não é específica pra cães, ela pode se estender a outro pets. Valendo então para mãe de cachorro, mas para mães de pets num geral.

Antes de ler esse artigo, já tinham pensado no quão profunda é sua ligação com seu filho de quatro patas? Aproveitamos pra desejar um dia das mães maravilhoso a TODAS as mamães! E te convido para conhecer as minhas meninas no Instagram @leleepoppys!

Fernanda Franco

Fernanda Franco

Autor

Humana de estimação da Lelé e da Poppys do @leleepoppys. Bióloga doutora em genética e biologia molecular, apaixonada por processos evolutivos e padrões comportamentais caninos. Aqui “traduzo” a literatura científica em linguagem acessível e conto a minha experiência como mãe de pet.

1 Comentário

  1. Du_doidos

    Muito interessante olhar de uma forma biológica a relação entre nós e os filhos de 4 patas. Excelente texto

    Responder

Trackbacks/Pingbacks

  1. Linguagem canina - Matilha Brasil - […] de “ligação”, similar ao observado na relação maternal (contamos sobre isso no post MÃE DE CACHORRO: UMA EXPLICAÇÃO BIOLÓGICA…

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Bruna Flores Vaz

Sou a Bruna Mamãe do Chop (@chop_chow) e estudante de Medicina! Estou a 3 anos no Mundo do Instagram Pet e gosto muito de todo esse universo de influenciador, onde compartilho minhas experiências e dicas da vida com um Chow Chow!

Carolina Falaschi

Relações Públicas apaixonada por animais. Desde o meu primeiro emprego, eles sempre estiveram presentes. Estou focada no mercado pet desde 2016, quando fui fazer curso de Auxiliar Veterinário e depois fiz apenas um ano de Medicina Veterinária. Aqui na Matilha Brasil, estou unindo a paixão por comunicação e animais, em publicações mensais que unem conhecimento técnico e minha experiência como tutora do @arthur.pastoralemao.

Fernanda Franco

Bióloga doutora em Genética e Biologia Molecular e apaixonada por cães. Desde a faculdade sempre tive interesse muito grande nas relações evolutivas e nos padrões comportamentais dos animais. E mesmo não sendo esse o caminho trilhado profissionalmente, sempre foi um hobbie estudar um pouco mais sobre isso.
Com a chegada da Lelé e da Poppys (@leleepoppys) esse interesse aumentou buscando sempre o bem-estar das duas.

Fê Rabaglio

Designer gráfico especialista em Comunicação em Redes Sociais, atuo na área de produção de conteúdo e gestão estratégica de redes sociais desde 2011.
Já passei pelos mercados de Turismo e Intercâmbio, mas o mercado pet foi uma grata surpresa que os meus cães, os Ursinhos Chow Chow, me trouxeram, cheio de peculiaridades que amo conhecer e contribuir para o crescimento de marcas e pet criadores de conteúdo.!

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